
Não está satisfeita com o que vem colhendo?
Experimente mudar o que vem plantando.
O que é nutrição comportamental

Talvez você nunca tenha ouvido falar da nutrição comportamental. Apesar dessa abordagem não ser nova, aqui no Brasil ela vem ganhando força há poucos anos.
Ela é desconhecida pela maioria das pessoas, inclusive nós, nutricionistas. Ouvi falar pela primeira vez em 2014 (muito recente, já que me formei em 1994). E confesso que fiquei emocionada ao saber que tinha outros profissionais que também acreditavam nessa forma de atuar e que fazia muito sentido para mim.
Buscar um nutricionista comportamental é ir atrás de um universo totalmente novo, pois esse profissional vai no sentido contrário da nutrição convencional.
Ela respeita a sua humanidade e vai olhar para suas dificuldades buscando respeitar quem você é.
É sair do “mundo das dietas restritivas” onde o foco é reduzir calorias, restringir grupos alimentares, medir resultados pela balança e sentir culpa (muita culpa) se faz o que foi passado.
O nutricionista passou a ser visto como "emagrecionista", castrador dos prazeres à mesa e chatos!
Tão chatos que o canal do youtube "Porta dos fundos" e a "D. Hermínia" já gravaram vídeos satirizando o papel do nutricionista. A doutora Lorca, do Zorra Total, também. Quem se lembra da frase: Isso poooode!
O papel do nutricionista é muito mais amplo, por isso minha frustração.
Podemos mostrar às pessoas que comer vai muito além de nutrir células e emagrecer com dietas restritivas.
Somos seres BIOPSICOSSOCIAIS portanto, só pensar em nutrientes e percentual de gordura é é desrespeitar a complexidade do ser humano.
Pessoas que "vivem de dieta" têm sua vida social e emocional desequilibradas. E quanto mais dieta ela faz, maior a chance de comer de forma compulsiva e desequilibrada. A verdade é que é possível comer de maneira simples, equilibrada e sem terrorismo.
É fato que comer tem ficado cada vez mais difícil pois, são tantas informações que as pessoas se perdem no meio delas.
Coma de 3 em 3 horas; não coma carboidrato; corte o açúcar; ovo não pode, agora pode; glúten engorda; evite as frutas porque tem frutose, tome chá e seque em 7 dias, etc, etc, etc. O excesso de regras, proibições e terrorismo tem contribuído para a pessoa pensar cada vez mais em comida.
Acredito que a atuação tradicional (do nutricionista que controla o que seu paciente vai comer e mede os resultados na balança) agrava a relação dela com a comida e deixa-a mais obcecada por um corpo idealizado pela cultura da magreza.
Quantas vezes você sentiu culpa, arrependimento e medo de fracassar?
E quando essas sensações se instalam (culpa, medo, fracasso), o tiro sai pela culatra. É como jogar mais lenha na fogueira... o desejo por comida aumenta, a insatisfação com o corpo eleva, os pensamentos disfuncionais de que "não sou capaz" piora. Se você já fez dietas, deve entender o que estou falando.
O objetivo da abordagem comportamental é devolver ao paciente a autonomia de escolher o que comer de acordo com sua vontade, sua fome, saciedade e seus limites.
Você pode até pensar: ah... mas se for assim vou comer batata frita, doce e massa todo dia. SERÁ?
Será que a vontade louca por esses alimentos não é agravada por tentar cortar e elimina-los da sua vida? Já ouviu falar que a proibição gera compulsão?
Ou quem sabe a necessidade de comer certos alimentos, como chocolate, pão e sorvete, não é uma tentativa de aliviar um vazio interno, um incômodo, uma raiva, uma insatisfação? - comer emocional -
Por isso é importante compreender o PORQUE e o COMO se come. Pessoas que estão insatisfeitas com seu corpo, que dizem começar a dieta na segunda e na semana seguinte abandonam, aquelas que vivem o efeito sanfona precisam entender mais a fundo sua relação com a comida e com o corpo.
Por que com o corpo? Porque quase sempre as loucuras que se faz na alimentação é em busca de um corpo "X ou Y", portanto é importante também investigar esta insatisfação corporal. É comum eu atender pessoas que odeiam e são "brigadas" com seu corpo.
Enfim, só podemos mudar aquilo que enxergamos, reconhecemos e aceitamos. E a nutrição comportamental é um caminho para aqueles que já tentaram pelas vias convencionais e hoje se sentem frustradas, cansadas, desacreditadas e anseiam por algo que realmente as ajude a fazer as pazes com a comida e o corpo.
A nutrição comportamental vai no caminho contrário...
Ela escuta e não impõe regras
Ela inclui e não restringe
Ela acolhe e não pune
Ela liberta e não aprisiona
O nutricionista caminha junto, lado a lado ... e incentiva/ensina o paciente a reconectar com seu corpo, sua fome, sua saciedade e seus limites.
É um caminho de autoconhecimento, é uma oportunidade para olhar para dentro e curar a sua relaçào com a comida.
O foco da nutrição humanizada/comportamental é:
- promover mudança de mentalidade para assim melhorar os hábitos sem necessitar de regras rígidas
- fazer as pazes com a comida e com seu corpo
- entender que a alimentação é uma parte da nossa vida, não o pilar central
- estabelecer conexão consciente entre comer e viver (em paz e com autoconfiança)
- praticar o autocuidado e autoaceitação
- reconectar com os sinais internos de fome/saciedade para comer de forma livre, sem maltratar o corpo
- dar autonomia ao paciente, ensinando-o a ser nutricionista de si
O que se espera de resultado com a terapia nutricional (sim, é um processo terapêutico):
- melhora da satisfação com seu corpo
- melhora da relação com a comida
- estabelecimento do consumo alimentar saudável
- sair do terrorismo nutricional onde comer com prazer vem seguido de culpa
- aprender a lidar com estresse no dia a dia sem usar a comida como conforto
- perda de peso, mas não como meta primária
- valorização da sua vida, do seu corpo